Em 2005 a revista Isto É publicou uma entrevista com o médico psiquiatra e escritor Roberto Shinyashiki. O escritor aborda a questão da
supervalorização das aparências, a busca pelo "sucesso" e a felicidade. É um texto interessante. Publico aqui os trechos que mais me chamaram a atenção.
“Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoa de sucesso,
você precisa ser diretor de uma multinacional, ter carro importado, viajar de
primeira classe. O mundo define que poucas pessoas deram certo. Isso é uma
loucura. Para cada diretor de empresa, há milhares de funcionários que não
chegaram a ser gerentes. E essas pessoas são tratadas como uma multidão de
fracassados. Quando olha para a própria vida, a maioria se convence de que não
valeu a pena porque não conseguiu ter o carro nem a casa maravilhosa.
Para mim, é importante que o filho da moça que trabalha na
minha casa possa se orgulhar da mãe. O mundo precisa de pessoas mais simples e
transparentes. Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus
projetos de vida, e não para impressionar os outros. São pessoas que sabem
pedir desculpas e admitir que erraram.
(...)
O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta, a
começar pelo processo de recrutamento. É contratado o sujeito com mais
marketing pessoal. As corporações valorizam mais a auto-estima do que a
competência.
(...)
A gente não é super-herói nem superfracassado. A gente
acerta, erra, tem dias de alegria e dias de tristeza. Não há nada de errado
nisso.
(...)
São três fraquezas. A primeira é precisar de aplauso, a
segunda é precisar se sentir amada e a terceira é buscar segurança. Os Beatles
foram recusados por gravadoras e nem por isso desistiram.
(...)
A sociedade quer definir o que é certo. São quatro loucuras
da sociedade. A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se ele
não tivesse significados individuais. A segunda loucura é: Você tem de estar
feliz todos os dias. A terceira é: Você tem que comprar tudo o que puder. O
resultado é esse consumismo absurdo. Por fim, a quarta loucura: Você tem de
fazer as coisas do jeito certo. Jeito certo não existe. Não há um caminho único
para se fazer as coisas.
As metas são interessantes para o sucesso, mas não para a
felicidade. Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito. Tem gente que
diz que não será feliz enquanto não casar, enquanto outros se dizem infelizes
justamente por causa do casamento. Você pode ser feliz tomando sorvete, ficando
em casa com a família ou com amigos verdadeiros, levando os filhos para brincar
ou indo a praia ou ao cinema.
Quando era recém-formado em São Paulo, trabalhei em um
hospital de pacientes terminais. Todos os dias morriam nove ou dez pacientes.
Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte. A maior parte pega o
médico pela camisa e diz: ‘Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei a
vida inteira, agora eu quero aproveita-lá e ser feliz’. Eu sentia uma dor
enorme por não poder fazer nada. Ali eu aprendi que a felicidade é feita de
coisas pequenas. Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter
aplicado o dinheiro em imóveis ou ações, mas sim de ter perdido várias
oportunidades para aproveitar a vida.”
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