Há muito tempo, nos idos da década de 1980, eu encontrei um gibi no lixo, era um
Almanaque do Cascão sem capa, eu ainda estava aprendendo a ler e de imediato
fiquei hipnotizado por aquela obra. Folheava o gibi extasiado e me encantava
com cada página, com cada quadrinho, lia e relia aquela relíquia sem parar.
Pode parecer exagero a forma como descrevo o meu primeiro contato com o mundo
dos quadrinhos, mas na verdade não tem nada de exagero, nascia ali uma grande paixão.
Meu pai logo
percebeu meu encantamento com os gibis e, para meu deleite, me presenteou com
algumas revistas novinhas. Então os personagens impressos naquelas folhas de
papel tornaram-se meus amigos inseparáveis. Eu gostava de tudo, mas os
preferidos eram a turma da Mônica (principalmente o Cascão) e os personagens
Disney.
Eu estava sempre
pedindo para meu pai comprar novos gibis e todo dinheiro que eu ganhava era
destinado à esse fim. Um dos meus maiores prazeres era conseguir juntar
alguns trocados, pegar minha Monareta vermelha e pedalar a toda velocidade em
direção à única banca da pequena cidade mineira em que morávamos durante minha
infância e adolescência.
Consegui reunir uma
coleção considerável, bastante variada, mas formada principalmente por Turma da
Mônica e Disney, mas que também contava com Os Trapalhões, Recruta Zero,
Bolinha e Luluzinha e outros. Tinha um pouco de DC e Marvel também, mas naquela
época eu não gostava muito de comprar quadrinhos de super-heróis porque as
histórias quase sempre continuavam em outras edições, os gibis não traziam
histórias fechadas e eu não sabia quando teria dinheiro para voltar à banca,
por isso não dava para acompanhar esse universo.
Mas o tempo foi
passando e com a adolescência surgiram outras paixões, outras prioridades,
outros passatempos e aos poucos fui deixando os quadrinhos de lado. Um dia,
quando eu tinha dezoito anos de idade, nos mudamos para outra cidade e a minha
preciosa coleção se perdeu para sempre, ficou esquecida nas gavetas de um móvel
velho que eu nunca mais veria.
No início não me
importei muito, mas conforme o tempo foi passando comecei a sentir falta
daqueles gibis que fizeram parte da minha infância, que me acompanharam por
tanto tempo e que me fizeram tão feliz. Voltei aos poucos ao hábito da leitura,
mas com livros e não com quadrinhos, pois não era mais criança e deveria ler
“coisas de adulto”. Ali nasceu uma nova paixão, passei a ler cada vez mais e
hoje tenho uma bela coleção de livros dos mais variados gêneros: ficção,
história, biografia, poesia, crônicas etc.
Contudo, sempre
batia um sentimento de nostalgia em relação aos quadrinhos e um dia, há sete anos, passando em frente a uma banca de revistas me deparei com um gibi que
trazia na capa o Zé Carioca, o Panchito e o Pato Donald. Era o Disney Big
número 4, uma revista de 308 páginas (foto abaixo). Resolvi comprar de forma meio
desinteressada e, terminada a leitura, descobri que minha paixão pelos
quadrinhos não tinha acabado, estava apenas adormecida e agora despertara.
Foi assim, depois de
uns quinze anos longe desse universo, que voltei a apreciar essa arte tão
lúdica e magnífica. Hoje tenho uma condição financeira que me permite comprar
meus gibis com uma certa periodicidade e ampliar esse mundo de fantasia tão
prazeroso. Descobri que sou um grande fã dos super-heróis da Marvel e da DC e
do ranger Tex Willer, que ainda me divirto imensamente com as travessuras da
turma do bairro do Limoeiro, que Calvin e Hobbes, Snoopy e Mafalda são
quadrinhos geniais. Mas percebi que em primeiro lugar ainda estão as aventuras e
trapalhadas dos personagens Disney.
Os quadrinhos hoje
têm lugar cativo nas minhas prateleiras, abrilhantando minha coleção literária
que só faz crescer, para desespero da minha esposa. Rsrs...